Simplesmente me abrace
- Gê Primo
- Sou uma pessoa otimista...Adoro fazer amizades,pintar as paredes do meu apartamento,comer chocolates,cortar meu cabelo(eu mesmo)!!!Acredito que haja um ser maior criador de todo esse universo, acredito no amor, em sonhos e nos finais felizes!!!já me perdir em estacionamento de shopping, já comi chocolate derretido pelo calor do sol.Aprendi que não há melhor remédio no mundo que um sorriso e pensamento positivo... Que o caminho parece mais curto quando estamos acompanhados... Que eu posso usar a cor que eu quiser... Que nunca é tarde para recomeçar...já me perdir dentro dos meus sonhos...
segunda-feira, 23 de maio de 2011
AUTOBIOGRAFIA
"Nasci na encosta de um outeiro. E fiquei, dentro em pouco, um pinheiro delgado e elegante. Tão elegante que uma senhora, passando com seus filhos por perto de mim, desejou-me para árvore de Natal.
- Como ficará lindo carregadinho de presentes e de doces, com as velinhas de cores – exclamou uma das meninas que acompanhavam a senhora.
Estremeci até as raízes, pensando que logo me haviam de arrancar para, no grande e festivo dia das crianças, ir adornar o salão de uma escola ou de uma casa abastada.
Passaram-se, porém, muitos anos e ninguém veio buscar-me para a festa do Natal. Minhas raízes aprofundaram-se mais; meu tronco tornou-se alto e forte; estendi para o céu ramaria possante, que as tempestades não puderam derribar. Todos os anos as pinhas enfeitavam meus galhos; e, quando amadureciam, aves, animais e homens vinham à minha sombra colher os frutos, que se espalhavam pelo chão. Eu era a maior e a mais bela de todas as árvores daquela região.
Mas o dia funesto chegou. Um homem aproximou-se de mim, olhou-me com atenção de alto a baixo, e fez, a facão, um sinal no meu tronco. Vieram depois operários musculosos, de machado em punho; e logo estava eu deitado no solo, com os ramos partidos. Estava reduzido a um simples madeiro – eu, o rei dos vegetais de toda aquela redondeza...
Arrastaram-me, em seguida, para uma fábrica e reduziram-se a uma polpa branca. Nenhum dos meus camaradas me houvera reconhecido, quando transformado em alvo lençol, sofria a última demão, a fim de aparecer no mercado sob a forma de papel. Que torturas padeci: os golpes mortíferos do machado, o talho agudo das lâminas que me dilaceravam, o aperto horrível de engrenagens que me esmagavam, o atrito áspero de mós que me pulverizavam, o ardor das drogas que me fizeram pálido... Depois de tudo isso, colocaram-me em uma prensa, da qual saí enfardado para uma longa viagem.
Vendeu-se um negociante a um impressor. Fui para uma tipografia, onde novas angústias me esperavam. Puseram-se em um prelo, no qual, em giros vertiginosos, palavras e gravuras eram sobre mim estampadas. Dobraram-me depois. Cortaram-me. Coseram-me. Cobriram-me com duas capas de cartão. E eis-me aqui, agora, meu amigo, para ir contigo à escola.
Não me maltrates nem me desprezes. Muito sofri para trazer-te a sabedoria dos antigos, as lições de experiência, a expressão dos prosadores e poetas, que enriqueceram tua língua materna e fizeram meigo e suave teu idioma.
Ama-me e lê-me: eu sou o teu livro."
ERASMO BRAGA
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